domingo, 10 de agosto de 2008

SIDÓNIO- Ele Tornará Feito Qualquer Outro



Publicações Alfa, 1990 - 2ª Edição




Editora Perspectivas & Realidades, 1983 - 1ª Edição

DO CAPÍTULO - O «Santo Sidónio»
«Quer se queira ou não, Sidónio Pais foi um dos casos mais curiosos de popularidade em toda a história da I República.
Odiado por uns, combatido por outros e atacado por tantos, Sidónio Pais era, no entanto, extraordinariamente amado por multidões que o aclamavam numa entusiástica loucura.
Para Raul Brandão, havia nele uma distinção que os outros não tiveram; um não sei quê, que atraía os homens e principalmente as mulheres.
«Era uma figura alta, distinta, adorado pelas mulheres, e que não conseguia passar sem saias à sua volta.»
«A sua fisionomia insinuante tinha a palidez do mármore pantélico, brunido pelos beijos quentes da luz helénica. A boca rubra e voluptuosa era esculpida em recorte amoroso pela asa alada do Deus Cupido» — assim o descreve Maria Feio, que o venerou com um pequeno livro, Sidónio Pais através do Coração, onde Sidónio é o Grande Amoroso e o homem sonhado em qualquer leito de mulher apaixonada.
Estava separado da mulher, que continuava a viver em Coimbra, mas não lhe faltavam companhias femininas. A condessa de Ficalho era, sem dúvida, a mais frequente.
Uma peripécia da vida amorosa de Sidónio Pais é-nos contada pelo jornalista Rocha Martins, nela ressaltando que nem sempre os negócios de Estado encontravam vaga no tempo libidinoso do presidente.
Rocha Martins dá conta de que certo dia um ministro (provavelmente Tamagnini Barbosa) teve necessidade de se deslocar ao Palácio da Pena com documentação urgente para o presidente dar despacho.
O ministro esperou... esperou, e Sidónio nada!
Ao fim de aguardar um bom par de horas, o ministro consegue, por fim, entrar no gabinete do presidente, mesmo a tempo de ainda ver escapulir-se a «saia» que lhe fizera esperar tanto tempo.
Sidónio tinha sempre a sua residência em Sintra cheia de senhoras, que ali passavam as suas férias de Verão. «Era para trabalhar em obras de beneficência», diz-nos Jesus Pabón no seu livro A Revolução Portuguesa.
A condessa de Ficalho, que não perdia uma destas oportunidades de estar com Sidónio, escreve:
«Depois de nos fazer trabalhar tanto quanto podíamos... e mais, bastava um sorriso dele e esquecíamos todo o cansaço; estava tudo pago.»
É claro que as más-línguas, como sempre, não podiam faltar.
O autor de Sidónio na Lenda jura a pés juntos que o presidente alojara pelo menos uma concubina francesa no Palácio da Pena, e que só queria dormir na cama do ex-rei D. Manuel, de onde apenas tinham sido mudados os lençóis.
Mas, se muitos foram os maldizentes de Sidónio, não pouco (ou poucas) apareceram publicamente a desculpar os devaneios brejeiros do Grande Amoroso.
Maria Feio, que não tem papas na língua na exaltação do seu herói, compõe trechos como este:
«Sidónio era afinal um cativo de paixões funestas, que atormentava quando apenas desejava amar. O amor era a Via Láctea dos seus sonhos. Era a Gôndola da sua imaginação devaneadora que levava à proa grinaldas de esperanças entrelaçadas em espinhos dolorosos. O amor era, enfim, o alento vitalizador da sua alma mística e ardente.
Abria, sem querer, chagas de dor noutros corações», continua Maria Feio. «Quanta lágrima amaríssima se confundia nos seus lábios ardentes com a ânsia devoradora dos beijos?
Mas como é que Sidónio Pais não havia de ser escravo do Deus Cupido», interroga-se ainda a autora, «se a natureza lhe dera o fluido da simpatia como os deuses mitológicos dando a Peleu a lança milagrosa que lhe facilitava a vitória das conquistas amorosas?
Como um Páris irresistível coroado de mirtos e de louros, rendido às graças de Vénus», prossegue Maria Feio, «possuía a linha das proporções plásticas que sobressaem na clássica estatuária grega. Contornos delicados sem excluir virilidade máscula, olhar rútilo, como arestas de sol.»

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